I Ching, o Livro das Mutações - Livro Primeiro, Hexagrama 49: Ko / Revolução
Esse texto faz parte da série a respeito do I Ching, o Livro das Mutações, que publicamos no blog quinzenalmente. A proposta é apresentar os textos sobre os 64 hexagramas publicados nos livros Primeiro e Terceiro do livro de Richard Wilhelm.
Para entender melhor o que é o I Ching, sugerimos dar uma olhada no post:
Para consultar o índice dos 64 hexagramas, basta acessar:
Cada hexagrama inclui:
- uma introdução geral, apresentando aspectos básicos do hexagrama;
- o nome do hexagrama (卦名 guàmíng), que por si só já é repleto de simbolismos;
- o texto, também chamado julgamento ou oráculo, que revela em linguagem simbólica o significado do hexagrama e possui poucas frases, tendo a ele sido adicionados comentários e interpretações ao longo dos séculos, a fim de ajudar o leitor a traduzir o ensinamento ancestral;
- a imagem ou símbolo, que apresenta uma mensagem adicional, com um modelo de conduta ou um conselho estratégico para lidar com a situação indicada pelo hexagrama; e
- os textos das linhas, em número de seis, indicam alternativas ou transformações possíveis das condições retratadas no hexagrama - lembrando que as linhas são contadas de baixo para cima, sendo a linha inferior a primeira.
E isso é basicamente tudo que você precisa saber para continuar. Boa leitura!
Livro Primeiro (o Texto), Hexagrama 49: Ko / Revolução
O termo que designa este hexagrama tinha originalmente o sentido do pelo de um animal, que muda no decorrer do ano.
Seu significado foi então ampliado de modo a abranger as mudanças na vida política, as grandes revoluções ligadas à troca de governo.
Os dois trigramas que compõem este hexagrama são os mesmos do hexagrama K'uei, OPOSIÇÃO (38), as duas filhas menores, Li e Tui.
Lá porém, a mais velha das duas se encontrava acima, o que, basicamente, causava apenas um antagonismo de tendências.
Aqui, a mais moça está acima e as influências se opõem, as forças se combatem como fogo e água (lago), cada qual tentando destruir a outra. Por isso, a idéia de revolução.
Julgamento
REVOLUÇÃO. Em seu dia próprio, você verá que lhe darão crédito. Supremo sucesso, propiciado pela perseverança. O arrependimento desaparece.
Revoluções na vida política são extremamente graves. Deve-se recorrer a elas apenas em casos extremos, quando já não há mais nenhuma outra saída.
Nem todos estão aptos a empreendê-la; somente aquele que goza da confiança do povo e, mesmo este, apenas quando o faz no momento adequado.
Ele deve então proceder da maneira correta, procurando dar alegria ao povo e orientando-o de modo a evitar excessos.
Além disso, é preciso estar isento de qualquer proposta egoísta, procurando verdadeiramente aliviar o sofrimento das massas. Só assim ele estará livre de motivos para arrependimento.
Os tempos mudam e, com eles, as exigências. Assim, também passam as estações no decorrer do ano.
O mesmo ocorre em termos de ciclos cósmicos, com a primavera e o outono na vida das pessoas e das nações impondo transformações sociais.
Imagem
Fogo no lago: a imagem da REVOLUÇÃO. O homem superior organiza o calendário e marca com clareza o período das estações.
O fogo abaixo e o lago acima combatem e destroem um ao outro. Assim também, no decorrer do ano, uma luta se realiza entre as forças da luz e da escuridão, resultando na mudança das estações.
O homem pode chegar a exercer um domínio sobre essas mudanças na natureza quando, percebendo sua regularidade, divide o fluxo ininterrupto do tempo em períodos correspondentes.
Deste modo, ordem e clareza surgem em meio à mudança aparentemente caótica das estações. Com isso, ele pode ajustar-se com antecipação às exigências das diferentes épocas.
Textos das linhas
Nove na primeira posição significa: envolvido em pele de vaca amarela.
Mudanças devem ser realizadas somente quando já não resta qualquer outro recurso. Por isso, é necessário uma extrema reserva ao início.
Deve-se procurar manter a firmeza interior e a moderação (o amarelo é a cor do meio e a vaca, o símbolo da docilidade), evitando, por hora, tomar iniciativas, uma vez que qualquer ofensiva prematura terá más consequências.
Seis na segunda posição significa: quando chega o momento adequado, pode-se fazer a revolução. Partir traz boa fortuna. Nenhuma culpa.
Quando se empregam todos os recursos na tentativa de realizar reformas e não se tem êxito, a revolução torna-se necessária. Porém, uma mudança tão radical exige cuidadosa preparação.
É preciso que haja um homem com as qualidades necessárias e que conte com a confiança do povo. A ele então se pode recorrer. Isso traz boa fortuna, não sendo, pois, um erro.
A primeira coisa a se considerar aqui é a atitude que se vai tomar em relação às novas condições que inevitavelmente surgirão.
É preciso como que ir a seu encontro. Só assim se pode preparar seu advento.
Nove na terceira posição significa: partir traz infortúnio. A perseverança traz perigo. Depois de ouvir se repetir por três vezes o clamor da revolução ele pode aderir, pois lhe darão crédito.
Quando a mudança se torna necessária, há dois erros que se devem evitar.
O primeiro consiste na pressa excessiva e desconsideração. Isso traz infortúnio. O segundo erro consiste em demasiada hesitação e conservadorismo, que são igualmente perigosos.
Não se deve dar ouvidos a todo e qualquer apelo de mudança das condições existentes. Mas também não se devem ignorar queixas repetidas e bem fundamentadas.
Após se ouvir por três vezes apelos para que sejam realizadas mudanças e se refletir o suficiente, pode-se então dar crédito às reivindicações e atendê-las.
Assim, se conquistará a confiança de todos e se poderá alcançar o que se busca.
Nove na quarta posição significa: o arrependimento desaparece. As pessoas confiam nele. Mudar a forma de governo traz boa fortuna.
As mudanças radicais exigem uma autoridade adequada. Para tanto, um homem deve aliar uma grande força interior a uma posição influente.
Seus atos devem corresponder a uma verdade superior, não se originando em motivos arbitrários ou mesquinhos. Então virá a boa fortuna.
Se uma revolução não se baseia numa verdade interior, será nociva e não terá êxito. Pois, ao final, os homens apóiam apenas as iniciativas que instintivamente percebem serem justas.
Nove na quinta posição significa: o grande homem muda como um tigre. Mesmo antes de consultar o oráculo ele encontra a confiança do povo.
A pele do tigre com suas nítidas riscas negras ressaltando sobre o fundo amarelo forma um padrão que se reconhece à distância.
O mesmo ocorre com a revolução empreendida por um grande homem; surgem grandes e claras linhas de orientação que todos podem compreender.
Assim sendo, ele não necessita consultar o oráculo, uma vez que o povo o apoia espontaneamente.
Seis na sexta posição significa: o homem superior muda como uma pantera. O homem inferior muda na face. Partir traz infortúnio. Permanecer perseverante traz boa fortuna.
Depois de resolvidos os grandes problemas básicos, são necessárias ainda certas modificações em detalhes e em precisão.
Essas reformas podem ser comparadas com as manchas igualmente nítidas, porém menores, da pele da pantera.
Como consequência, ocorre uma mudança entre os homens inferiores, que também procuram adequar-se à nova ordem. Essa mudança não é, na verdade, profunda, mas não se deveria esperar outra coisa.
O homem deve conformar-se com o possível. Se se quisesse ir mais longe, buscando objetivos demasiado elevados, provocaria inquietude e infortúnio.
Pois o que se deve aspirar de uma grande revolução são condições claras e seguras que garantam uma tranquilidade para todos, de acordo com as possibilidades do momento.
Depois de tudo
E aqui alcançamos o final do texto sobre o hexagrama Ko / Revolução, da primeira parte do livro I Ching, o Livro das Mutações.Caso tenha interesse, pode adquirir o livro clicando na imagem a seguir:
Para consultar o índice dos hexagramas, clique:
Próximo hexagrama:
Hexagrama anterior:
- 48. Ching / O Poço
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Créditos e referências
Ilustrações e fotos creditadas na ordem em que aparecem no post.- Imagem do hexagrama - diretamente do livro I Ching, o Livro das Mutações.
- Estátua de pantera negra sobre a grama verde - foto de Leticia F. Paes, encontrada no Flickr.
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