I Ching, o Livro das Mutações - Livro Primeiro, Hexagrama 40: Hsieh / Liberação
Esse texto faz parte da série a respeito do I Ching, o Livro das Mutações, que publicamos no blog quinzenalmente. A proposta é apresentar os textos sobre os 64 hexagramas publicados nos livros Primeiro e Terceiro do livro de Richard Wilhelm.
Para entender melhor o que é o I Ching, sugerimos dar uma olhada no post:
Para consultar o índice dos 64 hexagramas, basta acessar:
Cada hexagrama inclui:
- uma introdução geral, apresentando aspectos básicos do hexagrama;
- o nome do hexagrama (卦名 guàmíng), que por si só já é repleto de simbolismos;
- o texto, também chamado julgamento ou oráculo, que revela em linguagem simbólica o significado do hexagrama e possui poucas frases, tendo a ele sido adicionados comentários e interpretações ao longo dos séculos, a fim de ajudar o leitor a traduzir o ensinamento ancestral;
- a imagem ou símbolo, que apresenta uma mensagem adicional, com um modelo de conduta ou um conselho estratégico para lidar com a situação indicada pelo hexagrama; e
- os textos das linhas, em número de seis, indicam alternativas ou transformações possíveis das condições retratadas no hexagrama - lembrando que as linhas são contadas de baixo para cima, sendo a linha inferior a primeira.
E isso é basicamente tudo que você precisa saber para continuar. Boa leitura!
Livro Primeiro (o Texto), Hexagrama 40: Hsieh / Liberação
Aqui o movimento sai da esfera do perigo. O impedimento é removido e as dificuldades estão sendo solucionadas.
A liberação ainda não foi concluída; está nos primórdios e o hexagrama representa suas diferentes etapas.
Julgamento
LIBERAÇÃO. O sudoeste é favorável. Quando não resta nada a que se deva ir, o regresso traz a boa fortuna. Se ainda há algo a que se deva ir, apressar-se traz boa fortuna.
Esta é uma época em que as tensões e as complicações começam a ceder. Em tais períodos é necessário retornar o quanto antes às condições normais - este é o significado do sudoeste.
Tais épocas de mudança repentina são muito importantes.
Assim como a chuva provoca um alívio nas tensões atmosféricas e faz com que todos os brotos se entreabram, assim também o período da liberação traz um alívio ao que estava sendo oprimido e um estímulo à vida.
Mas uma coisa é muito importante: nessas épocas não se deve levar o triunfo a extremos.
É conveniente não se procurar avançar mais do que o necessário. A boa fortuna aqui consiste em voltar à normalidade da vida assim que se alcança a liberação.
Caso ainda restem resíduos por eliminar, é recomendável providenciá-lo o mais rapidamente possível, para que tudo seja esclarecido e encerrado sem demora.
Imagem
O trovão e a chuva surgem: a imagem da LIBERAÇÃO. Assim, o homem superior perdoa os erros e desculpa as faltas.
A tempestade purifica a atmosfera.
O homem superior procede de modo semelhante ao tratar dos erros e falhas humanas que provocam estados de tensão. Ele promove a liberação através do esclarecimento.
Mas quando as faltas vêm à tona, não se detém insistindo nelas. Ao contrário, procura relevar as falhas e as transgressões não intencionais, assim como o som do trovão extingue-se ao longe.
Ele perdoa as culpas e as transgressões deliberadas, assim como a àgua a tudo purifica.
Textos das linhas
Seis na primeira posição significa: sem culpa.
A situação aqui não requer muitas palavras. O impedimento passou, a liberação é chegada.
A recuperação deve se fazer na tranquilidade e quietude. Essa é a atitude correta no período que se segue à recuperação de dificuldades.
Nove na segunda posição significa: matam-se três raposas no campo e recebe-se uma flecha amarela. A perseverança traz boa fortuna.
O simbolismo aqui usa a imagem de uma caçada. O caçador abate três raposas astutas e recebe como prêmio uma flecha amarela.
Os obstáculos na vida pública são as raposas impostoras, que procuram influenciar o governante através da adulação. Elas devem ser eliminadas para que a liberação possa ocorrer.
Mas a luta não deve ser conduzida com armas erradas. A cor amarela indica a medida justa que se deve aplicar no combate ao inimigo, a flecha indica o rumo direto.
Quando alguém se dedica de todo coração à tarefa da liberação, sua retidão gera uma força interior capaz de atuar como uma arma contra toda a falsidade e contra toda a vileza.
Seis na terceira posição significa: se alguém leva um fardo às costas e ao mesmo tempo viaja numa carruagem, atrai com isso a aproximação de ladrões. A perseverança conduz à humilhação.
Isto se refere a um homem que saiu de circunstâncias de pobreza e alcançou uma posição cômoda, livre de necessidades.
Se, então, como um novo rico, ele se torna indulgente para com um conforto que na verdade não corresponde à sua natureza, ele atrairá desse modo os ladrões. Caso prossiga nessa atitude, encontrará sem dúvida razões para se envergonhar.
Confúcio comenta a respeito dessa linha:
Carregar um fardo às costas é tarefa de um homem comum. A carruagem é o meio de transporte dos nobres. Quando um homem comum usa algo que é próprio aos nobres, atrai com isso os ladrões. Quando um homem é insolente para com seus superiores e severo para com os subalternos, atrai ladrões ao roubo. Uma jovem usando jóias suntuosas é uma tentação a que lhe roubem a virtude.
Nove na quarta posição significa: liberte-se de seu dedo maior do pé. Virá então o companheiro e nele você poderá confiar.
Em épocas de paralisação, pode acontecer de homens vulgares ligarem-se a um homem superior e, com a convivência diária, tornarem-se íntimos e indispensáveis, assim como o dedo maior é indispensável ao pé, facilitando-lhe o caminhar.
Mas, quando aproxima-se o momento da liberação com seu chamado à ação, o homem deve libertar-se de tais companhias casuais, com as quais não tem conexões internas.
Se não o fizer, os amigos que compartilham de seus ideais, aqueles em quem realmente pode confiar e com os quais poderia realizar algo, desconfiarão dele e se manterão afastados.
Seis na quinta posição significa: caso somente o homem superior possa liberar-se, isso traz boa fortuna. Assim, ele demonstra ao homem inferior sua seriedade.
Épocas de liberação exigem resoluções internas. Não se podem afastar os homens inferiores através de proibições ou de meios externos.
Para que possamos nos livrar, devemos primeiramente liberar-nos por completo deles interiormente, pois então perceberão por si mesmos que estamos tomando as coisas a sério, e se retirarão.
Seis na sexta posição significa: o príncipe atira num falcão que está pousado sobre uma alta muralha. Ele o mata. Tudo é favorável.
Um falcão sobre uma muralha alta é a imagem de um poderoso homem inferior numa posição elevada, impedindo a liberação.
Ele não cede a influências internas, pois está enrijecido em sua maldade. Ele tem de ser eliminado pela força e isso requer meios apropriados.
Confúcio comenta a respeito dessa linha:
O falcão é o objetivo da caça. O arco e a flecha são os instrumentos e os meios. O arqueiro é o homem que deve utilizar corretamente os meios para atingir o objetivo. O homem superior contém os meios em sua própria pessoa. Ele espera o momento apropriado e então age. Por que não haveria de sair tudo bem? Ele age e é livre. Portanto, é necessário apenas que siga adiante e abata sua presa. Assim faz aquele que atua após ter preparado os meios.
Depois de tudo
E aqui alcançamos o final do texto sobre o hexagrama Hsieh / Liberação, da primeira parte do livro I Ching, o Livro das Mutações.Caso tenha interesse, pode adquirir o livro clicando na imagem a seguir:
Para consultar o índice dos hexagramas, clique:
Próximo hexagrama:
- 41. Sun / Diminuição
Hexagrama anterior:
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Créditos e referências
Ilustrações e fotos creditadas na ordem em que aparecem no post.- Imagem do hexagrama - diretamente do livro I Ching, o Livro das Mutações.
- Gotas de chuva na janela ou pingos caindo em câmera lenta - foto de Rodrigo Ghedin, encontrada no Flickr.
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