I Ching, o Livro das Mutações - Livro Primeiro, Hexagrama 30: Lin / Aderir (Fogo)
Esse texto faz parte da série a respeito do I Ching, o Livro das Mutações, que estamos publicando no blog quinzenalmente. A proposta é apresentar os textos sobre os 64 hexagramas publicados nos livros Primeiro e Terceiro do livro de Richard Wilhelm.
Para entender melhor o que é o I Ching, sugerimos dar uma olhada no post:
Para consultar o índice dos 64 hexagramas, basta acessar:
Cada hexagrama inclui:
- uma introdução geral, apresentando aspectos básicos do hexagrama;
- o nome do hexagrama (卦名 guàmíng), que por si só já é repleto de simbolismos;
- o texto, também chamado julgamento ou oráculo, que revela em linguagem simbólica o significado do hexagrama e possui poucas frases, tendo a ele sido adicionados comentários e interpretações ao longo dos séculos, a fim de ajudar o leitor a traduzir o ensinamento ancestral;
- a imagem ou símbolo, que apresenta uma mensagem adicional, com um modelo de conduta ou um conselho estratégico para lidar com a situação indicada pelo hexagrama; e
- os textos das linhas, em número de seis, indicam alternativas ou transformações possíveis das condições retratadas no hexagrama - lembrando que as linhas são contadas de baixo para cima, sendo a linha inferior a primeira.
E isso é basicamente tudo que você precisa saber para continuar. Boa leitura!
Livro Primeiro (o Texto), Hexagrama 30: Lin / Aderir (Fogo)
Este é mais um dos hexagramas formados pela repetição de um mesmo trigrama. O trigrama Li significa "aderir a algo", "ser condicionado", "depender de algo" e "claridade".Uma linha obscura liga-se a uma linha luminosa acima e a outra abaixo. Assim, surge a imagem de um espaço vazio entre duas linhas fortes, o que as torna luminosas.
Li é a filha do meio. O Criativo incorporou a linha central do Receptivo e desse modo se forma Li.
Como imagem, é o fogo. O fogo não tem uma forma definida, porém liga-se aos corpos que queimam, tornando-se luminoso.
Assim como a água desce do céu, o fogo arde elevando-se da terra. Enquanto K'an significa a alma aprisionada no corpo, Li significa a natureza em seu esplendor.
Julgamento
ADERIR. A perseverança é favorável. Ela traz o sucesso. Cuidar da vaca traz boa fortuna.
O obscuro liga-se ao que é luminoso, promovendo assim a claridade deste último.
Um corpo luminoso, ao irradiar luz, deve ter em seu interior algo que persevere, pois, de outro modo, com o tempo se extinguiria. Tudo o que é luminoso no mundo depende de um elemento ao qual se liga, a fim de poder continuar a brilhar.
Assim, o sol e a lua ligam-se ao céu, enquanto os grãos, a grama e as árvores ligam-se à terra. Do mesmo modo, a redobrada clareza do homem fiel a seu destino adere ao bem e pode assim dar forma ao mundo.
A vida humana no mundo é condicionada e dependente. Quando o homem reconhece essa limitação e se submete às forças harmoniosas e benéficas do cosmos, ele alcança o sucesso.
A vaca é o símbolo da extrema docilidade. Cultivando em si essa docilidade e voluntária dependência, o homem conquista uma clareza suave e encontra seu lugar no mundo.
Imagem
A clareza eleva-se duas vezes: a imagem do FOGO. Assim, o homem superior, perpetuando essa clareza, ilumina as quatro regiões do mundo.
Cada um dos dois trigramas representa o sol no ciclo de um dia. Os dois juntos representam a repetição do movimento do sol, a função da luz gerando o tempo.
O homem superior dá continuidade à obra da natureza no mundo dos homens. Graças à clareza de seu ser, ele faz com que a luz se expraie, penetrando cada vez mais na natureza do homem.
Textos das linhas
Nove na primeira posição significa: as pegadas se entrecruzam. Se o homem se mantém sério, nenhuma culpa.
Amanhece e o trabalho se inicia. Após ter estado isolado do mundo exterior no sono, a alma começa a restabelecer suas relações com o mundo.
As marcas das impressões se entrecruzam. Atividade e pressa imperam.
Nesse momento, o importante é preservar o recolhimento interior e não se deixar levar pela agitação da vida. Se permanecer sério e concentrado, o homem alcançará a clareza necessária para a análise das numerosas impressões que lhe chegam.
É precisamente no começo que esta séria concentração é importante, pois no início está a semente de tudo que se seguirá.
Seis na segunda posição significa: luz amarela. Suprema boa fortuna.
É meio dia. O sol brilha com luz amarela. O amarelo é a cor do meio e da medida.
A luz amarela é, portanto, o símbolo da civilização e da arte em seu apogeu, cuja harmonia está no perfeito equilíbrio.
Nove na terceira posição significa: sob a luz do sol poente os homens ou batem no caldeirão e cantam, ou suspiram em voz alta à aproximação da velhice. Infortúnio.
Finda o dia. A luz do sol poente lembra o aspecto condicionado e transitório da vida. Nesta falta de liberdade exterior os homens com frequência perdem também sua liberdade interior.
A transitoriedade da existência ou os impele a uma euforia desenfreada, a fim de gozar a vida enquanto ela dura, ou faz com que se deixem levar pela tristeza e desperdicem um tempo precioso lamentando a aproximação da velhice.
Ambas as atitudes são erradas. Para o homem superior é indiferente que a morte esteja próxima ou distante. Ele aprimora-se, aguarda sua sorte e assim consolida seu destino.
Nove na quarta posição significa: sua chegada é repentina; inflama-se, extingue-se, é jogado fora.
A clareza do intelecto tem para com a vida uma relação semelhante à que o fogo tem com a madeira.
O fogo adere à madeira, mas ao mesmo tempo a consome. A clareza do intelecto tem suas raízes na vida, mas também pode consumi-la.
Tudo depende de como essa clareza funciona. É usada aqui a imagem de um meteoro ou de um fogo de palha.
Um homem de caráter excitável e inquieto tem uma rápida ascensão, porém sem deixar efeitos duradouros. É um erro desgastar-se demasiado rápido e se consumir como um meteoro.
Seis na quinta posição significa: em prantos, suspirando e lamentando. Boa fortuna!
A vida aqui atinge um apogeu. Nesta posição, se não houvesse uma advertência, o homem se consumiria como uma chama.
Mas se chora e suspira, preocupado em conservar sua clareza, renunciando a toda esperança e temor por reconhecer a vacuidade de todas as coisas, essa sua tristeza trará boa fortuna.
Aqui ocorre uma verdadeira e definitiva mudança de atitude, e não apenas uma mudanças temporária, como no caso do nove na terceira posição.
Nove na sexta posição significa: o rei o utiliza para marchar adiante e castigar. O melhor será, então, matar os líderes e aprisionar seus seguidores. Nenhuma culpa.
O propósito da punição é impor disciplina e não castigar cegamente. O mal deve ser cortado pela raiz.
Na vida política, para fazê-lo, devem-se eliminar os líderes, porém poupar seus seguidores. No autoaperfeiçoamento devem-se extirpar os maus hábitos e tolerar aqueles que são inofensivos.
Pois o ascetismo muito rigoroso, assim como as punições excessivamente severas, não conduzem a bons resultados.
Depois de tudo
E aqui alcançamos o final do texto sobre o hexagrama Lin / Aderir (Fogo), da primeira parte do livro I Ching, o Livro das Mutações.Caso tenha interesse, pode adquirir o livro clicando na imagem a seguir:
Para consultar o índice dos hexagramas, clique:
Próximo hexagrama:
Hexagrama anterior:
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Créditos e referências
Ilustrações e fotos creditadas na ordem em que aparecem no post.- Imagem do hexagrama - diretamente do livro I Ching, o Livro das Mutações.
- Silhuetas de vacas no pasto em contraluz - foto de Toni Castillo Quero, encontrada no Flickr.
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