I Ching, o Livro das Mutações - Livro Primeiro, Hexagrama 24: Fu / Retorno (o Ponto de Transição)
Esse texto faz parte da série a respeito do I Ching, o Livro das Mutações, que publicamos no blog quinzenalmente. A proposta é apresentar os textos sobre os 64 hexagramas publicados nos livros Primeiro e Terceiro do livro de Richard Wilhelm.
Para entender melhor o que é o I Ching, sugerimos dar uma olhada no post:
Para consultar o índice dos 64 hexagramas, basta acessar:
Cada hexagrama inclui:
- uma introdução geral, apresentando aspectos básicos do hexagrama;
- o nome do hexagrama (卦名 guàmíng), que por si só já é repleto de simbolismos;
- o texto, também chamado julgamento ou oráculo, que revela em linguagem simbólica o significado do hexagrama e possui poucas frases, tendo a ele sido adicionados comentários e interpretações ao longo dos séculos, a fim de ajudar o leitor a traduzir o ensinamento ancestral;
- a imagem ou símbolo, que apresenta uma mensagem adicional, com um modelo de conduta ou um conselho estratégico para lidar com a situação indicada pelo hexagrama; e
- os textos das linhas, em número de seis, indicam alternativas ou transformações possíveis das condições retratadas no hexagrama - lembrando que as linhas são contadas de baixo para cima, sendo a linha inferior a primeira.
E isso é basicamente tudo que você precisa saber para continuar. Boa leitura!
Livro Primeiro (o Texto), Hexagrama 24: Fu / Retorno (o Ponto de Transição)
O ponto de transição é sugerido pelo fato de que, após as linhas obscuras expulsarem do hexagrama as linhas luminosas acima, uma outra linha luminosa surge novamente, embaixo.O tempo das trevas passou. O solstício de inverno traz a vitória da luz.
Este hexagrama é atribuído ao décimo primeiro mês do calendário chinês, o mês do solstício (dezembro-janeiro).
Julgamento
RETORNO. Sucesso. Saída e entrada sem erro. Amigos chegam sem culpa. Para adiante e para trás segue o caminho. Ao sétimo dia vem o retorno. É favorável ter aonde ir.
Após uma época de decadência vem o ponto de transição. A luz poderosa que tinha sido banida retorna.
Porém, este movimento não é provocado pela força. Como a característica do trigrama superior K'un é a devoção, o movimento é natural e surge espontaneamente.
Por isso, a transformação do antigo também torna-se fácil. O velho é descartado e o novo, introduzido. Ambos os movimentos estão de acordo com as exigências do tempo e, portanto, não causam prejuízos.
Formam-se associações de pessoas que têm os mesmos ideais. Como tal grupo se une em público e está em harmonia com o tempo, os propósitos particulares e egoístas estão ausentes e, assim, erros são evitados.
A ideia de retorno baseia-se no curso da natureza. O movimento é cíclico e o caminho se completa em si mesmo.
Por isso, não é necessário precipitá-lo artificialmente. Tudo vem de modo espontâneo e no tempo devido. Esse é o sentido do céu e da terra. Todos os movimentos se completam em seis etapas e a sétima traz o retorno.
Deste modo, o solstício de inverno, com o qual tem início o declínio do ano, ocorre no sétimo mês após o solstício de verão. Do mesmo modo, o nascer do sol ocorre na sétima hora dupla, 34 após o crepúsculo.
Por isso, o sete é o número da luz nova e surge quando ao seis, o número da grande escuridão, se adiciona a unidade. Assim, o estado de repouso dá lugar ao movimento.
Imagem
O trovão no interior da terra: a imagem do PONTO DE TRANSIÇÃO. Assim, os reis da antiguidade fechavam as passagens na época do solstício. Comerciantes e forasteiros não transitavam e o governante não viajava pelas províncias.
Na China, o solstício de inverno foi sempre celebrado como a época de repouso do ano - costume que se conserva até hoje, no período de descanso do ano novo. No inverno, a energia vital, simbolizada pelo trovão, "O Incitar", encontra-se ainda no interior da terra.
O movimento está em seus primórdios e, por isso, deve-se fortalecê-lo através do repouso, para que não se dissipe num uso prematuro. Esse princípio básico, de fazer com que a energia nascente se fortifique através do repouso, aplica-se a todas as situações similares.
A saúde que retorna após uma doença, o entendimento que ressurge após uma discórdia, enfim, tudo o que está recomeçando deve ser tratado com suavidade e cuidado, para que o retorno leve ao florescimento.
Textos das linhas
Nove na primeira posição significa: retorno de uma curta distância. Não é necessário remorso. Grande boa fortuna!
Pequenos desvios do bem não podem ser evitados. Porém, é preciso retroceder a tempo, antes de ir longe demais.
Isto é especialmente importante na formação do caráter. Todo pensamento maléfico, por menor que seja, deve ser imediatamente afastado, antes que avance demais e se enraíze na mente.
Assim, não haverá necessidade de arrependimento e tudo irá bem.
Seis na segunda posição significa: retorno tranqüilo. Boa fortuna.
O retorno é um ato de autodomínio e sempre exige decisão. Isto se torna mais fácil quando uma pessoa se encontra em boa companhia.
Se consegue pôr de lado o orgulho e segue o exemplo dos homens de bem, encontra boa fortuna.
Seis na terceira posição significa: retorno repetido. Perigo. Nenhuma culpa.
Há pessoas que, em virtude de uma certa instabilidade interior, tendem constantemente a retroceder.
É sem dúvida perigoso esse movimento hesitante que, com freqüência, se deixa afastar do bem em virtude de desejos descontrolados para, em seguida, retroceder, mudando sua opinião.
Mas como isso também não conduz a uma consolidação do mal, a tendência geral a superar o defeito não está excluída por completo.
Seis na quarta posição significa: andando no meio dos outros, retorna-se sozinho.
Alguém se encontra em meio a uma sociedade de homens inferiores, mas se mantém ligado por vínculos interiores a um amigo forte e bom; isso o leva a retornar sozinho.
Embora não se faça qualquer menção à recompensa ou castigo, esse retorno é certamente favorável, pois a opção pelo bem traz sua própria recompensa.
Seis na quinta posição significa: retorno digno. Nenhum arrependimento.
Quando o movimento do retorno chega, não se deve buscar refúgio em desculpas banais e sim proceder a uma introspecção e a um auto-exame.
Caso se tenha cometido algum erro, deve-se tomar a nobre decisão de reconhecer o erro. Ninguém se arrependerá de seguir esse caminho.
Seis na sexta posição significa: perde-se o retorno. Infortúnio. Infortúnio interno e externo. Se os exércitos forem postos em marcha desta forma, se sofrerá, ao final, uma grande derrota, desastrosa para o governante do país. Durante dez anos não se estará em condições de atacar.
Quando se perde o momento certo para o retorno, encontra-se o infortúnio.
O infortúnio tem sua causa interna numa atitude errônea diante do mundo. O infortúnio externo é conseqüência dessa atitude errônea.
Descreve-se aqui uma cega obstinação e o julgamento correspondente.
Depois de tudo
E aqui alcançamos o final do texto sobre o hexagrama Fu / Retorno (o Ponto de Transição), da primeira parte do livro I Ching, o Livro das Mutações.Caso tenha interesse, pode adquirir o livro clicando na imagem a seguir:
Para consultar o índice dos hexagramas, clique:
Próximo hexagrama:
Hexagrama anterior:
---
Créditos e referências
Ilustrações e fotos creditadas na ordem em que aparecem no post.- Imagem do hexagrama - diretamente do livro I Ching, o Livro das Mutações.
- Nascer do sol com a luz refletida nas nuvens - foto de Giuliano Maiolini, encontrada no Flickr.
Nenhum comentário: