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Cena de Claudia Kim interpretando a princesa mongol Khutulun, na série Marco Polo

Eu desisto!

Se você acompanha o blog já há algum tempo, deve ter notado que tudo isso tem a ver, de um jeito ou de outro, com um livro que estou a escrever a respeito de Sun Tzu – suposto autor do livro A Arte da Guerra.

Suposto porque:

  1. Sua vida é um mistério, com pouquíssima informação histórica disponível – praticamente só um fiapinho vindo do próprio livro e da obra de Sima Qian;
  2. Ninguém tem certeza de que A Arte da Guerra que conhecemos realmente foi escrita por uma pessoa chamada Sun Tzu.

Sempre vi esse mistério mais como uma oportunidade e um desafio do que como problema para minhas pretensões literárias. No entanto, de fato, passei um bom tempo tentando descobrir mais a respeito do cara.

Por conta disso, surgiram diversos posts neste blog sobre uma de suas supostas terras natais (Qi) e também sobre sua provável família em Qi.

Alguns exemplos:


Acontece que, a partir do momento em que escrevo o post que você está lendo agora, estou oficialmente desistindo. Mas não de escrever o livro, fique de boas!

Esse objetivo ainda está firme e forte, caminhando devagar e (não pra) sempre!

Desisto de procurar resolver o problema de não haver informação suficiente sobre o cara e, doravante, abraço o desafio e a oportunidade de criar uma personagem a partir, tão somente, das informações que já possuo e da minha imaginação.
A história será (muito provavelmente) a que conhecemos, do embate entre Wu (lugar que deu fama a Sun Tzu) e Chu.

No entanto, tive algumas ideias mucho locas e parece que, agora sim, vou conseguir desenvolver bem a personagem e encaixá-la de um jeito bacana na história. Aliás, a essa altura, espero já ter evoluído bastante.

Ok, ok. E o que tem a ver isso com o título desse post?

Bem, sempre pensei em ter pelo menos uma personagem feminina destacada, que não fosse apenas coadjuvante ou par romântico de alguém. Que tivesse um papel preponderante, na verdade, por si só.

Então, depois dessa ideia que tive, resolvi pesquisar um pouco mais sobre o papel das mulheres na China Antiga – e este post trás alguns achados a respeito. E pode até ser que venham outros posts.

Tudo, obviamente, de um jeito ou de outro, será usado no livro. Pode apostar!

Enquanto isso, vem comigo pra saber um pouco mais sobre as mulheres e a arte da guerra na China Antiga. A ideia aqui é apresentar alguns episódios relacionados a guerra, batalhas e afins, nos quais as mulheres tiveram um papel importante.

Imperdível!

Lady Fu Hao


Pintura representando Lady Fu Hao em batalha

Lady Fu Hao foi a consorte do imperador chinês Wu Ding (1250 a 1192 AEC), da dinastia Shang (1600 a 1046 AEC). Entre seus feitos, liderou 3 mil  homens em batalha.

Ela tinha ingressado na casa real pelo matrimônio e aproveitou-se da sociedade escravista semi-matriarcal para subir na hierarquia.

É conhecida por estudiosos modernos principalmente devido às inscrições dos famosos Ossos de Oráculos da dinastia Shang, desenterrados em Yin Xu.

Nessas inscrições, ela é representada conduzindo numerosas campanhas militares.

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Lady Xu Mu

Digamos que ela não era tão “pra frente” quanto a Fu Hao, mas também não precisa ser uma Mulher Maravilha pra ter um papel relevante na guerra.

Concorda?

Nascida em 690 AEC, em plena efervescência do Período da Primavera e Outono, um de seus grandes méritos foi salvar a província de Wey da invasão militar - tanto com seus apelos por ajuda, quanto por conseguir suprimentos, obter apoio militar e viabilizar a reconstrução da província.

O outro mérito, e talvez o motivo pelo qual ela é mais conhecida, é que trata-se da primeira poetisa mencionada nos registros históricos da boa e velha China.

Aparentemente, alguns de seus poemas estão presentes no Shijing, o Livro das Canções.

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Lady de Yue


Lutadora de kung fu manejando espadas chinesas

Também conhecida como a Donzela da Floresta do Sul, foi uma cidadã que viveu da província de Yue (daí o nome pelo qual é conhecida) durante o período da Primavera e Outono - assim como Xu Mu.

No entanto, elas não foram contemporâneas, já que a Lady de Yue viveu mais para o final do período, durante o governo do rei Goujian, mais ou menos entre 496 e 465 AEC.

Habilidosa com a espada e admirada pela população local, diz a lenda, acabou sendo convidada pelo chefão aí para treinar seu exército.

Ela também é famosa por ter desenvolvido uma nova forma de metalurgia que poderia criar espadas de bronze capazes de manter o lustre, com fios flexíveis e bordas extremamente afiadas.

Elas ficaram conhecidas como “espadas Yuenü” e, em 1965, arqueólogos descobriram uma desse tipo enterrada ao lado dos restos de Goujian.

E, sim, é uma das espadas chinesas das quais já falamos neste blog.

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Huang Guigu

Também conhecida como Lady Sima (sendo que esse é o nome de um antigo posto oficial militar), Huang Guigu comandou três unidades militares durante a administração do primeiro imperador de fato da China - Zheng (ou Qin Shi Huang), da província de Qin, artífice do mausoléu onde se encontra o famoso Exército de Terracota.

Veja algumas características da mulher que liderou campanhas contra os povos da fronteira norte da China:

  • Capaz de tensionar um arco forte (vai por mim, isso não é pouca coisa);
  • Soldado dedicada, estudava textos militares durante a noite e praticava formações ao dia; e
  • Hábil em ler as estrelas.

Quando a dinastia Qin foi sucedida pela dinastia Han, seu fundador, Gaozu, por meio um decreto imperial, honrou Lady Huang com uma boa recompensa em ouro e jade.

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Não para por aí!


Grafite na passagem subterrânea da quadra 201 norte, em Brasília

De maneira alguma essa lista é exaustiva. Digo, se você procurar por aí, vai encontrar outras mulheres que desafiaram o status quo da maneira mais radical possível: indo à luta, literalmente.

Sem contar outros exemplos, não necessariamente da linha de frente, tais como:

  • O episódio das concubinas treinadas por Sun Tzu – que não exatamente as colocam na linha de frente; ou
  • A recomendação encontrada no livro de Shang Yang (um estadista do séc. IV AEC) sobre repartir os membros de um exército em três categorias: 1) homens fortes; 2) mulheres fortes; e 3) os fracos e idosos de ambos os sexos – as mulheres, neste caso, defenderiam as fortificações e construiriam armadilhas.

E obviamente, tem a Ng Mui, que você já viu no post sobre os mestres das artes marciais, e a Mulan – não, ela não é apenas uma personagem da Disney.

Fato é que, mesmo na China antiga, parece que as mulheres jamais acreditaram nessa história de sexo frágil e, quando bem entendiam, se impunham sobre os grilhões da sociedade majoritariamente patriarcal.

Mas esse é um lado da história, e certamente essas mulheres aí são a exceção da exceção.

Havia na China antiga todo um sistema social que as tratavam como inferiores – a respeito do qual já tivemos um vislumbre em dois momentos:


Mas não fica por aí.

Voltaremos a tratar da questão da mulher na China antiga, se não por uma razão mais nobre, pelos motivos que já expus no início deste post.

Aguarde e confie.

Enquanto isso, deixe seu recado nos comentários. Terei o maior prazer em respondê-los.

Zài jiàn!



Créditos e referências

Ilustrações e fotos creditadas na ordem em que aparecem no post.

Um comentário:

  1. Parabéns pela reflexão sobre as misérias que o patriarcado de maneira universal (oriente e ocidente) trouxe sobre a experiência feminina ao longo dos séculos. Adoraria trocar uma ideia sobre isso. É uma delicia a forma como vc escreve, divertido e ao mesmo tempo com muita propriedade.
    Já cria uma expectativa sobre o seu livro.
    Que os Céus derrame bênçãos e bons auspicios sobre vc.

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