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A história de Bruce Lee: vida, glória e morte do mito

Cena de Brue Lee no filme Jogo da Morte, com o clássico uniforme amarelo com listras pretas

Acho que isso acontecia mais com meninos do que com meninas. Pelo menos eu não lembro de ter visto nenhuma menina se comportando tão... marcialmente.

Primeiro: éramos vidrados em filmes de luta. Todo tipo. Mas o que nos amarrava mesmo eram os de kung fu – ou qualquer coisa que se assemelhasse.

Tão logo assistíamos o mais recente lançamento, saíamos à rua para... brincar de luta. E tentávamos imitar, deveras toscamente, os fantásticos golpes que víamos na TV.

Lançamento, claro, é modo dizer.

Eu não tinha acesso a TV por assinatura nem a videocassete naqueles tempos. Assistíamos ao que a TV aberta lançava – dois, três, sei lá quantos anos depois do cinema.

Ainda assim, aquilo acendia nossa imaginação.
E de todos os artistas que nos inspiravam, ninguém, nem mesmo Jean Claude Van Damme chegava aos pés de Bruce Lee. Não exatamente por ele ser um excepcional lutador (o que de fato era), mas pelo conjunto da obra e pela mística que o circundava.

Além de o cara ser um excepcional lutador, tinha carisma e um estilo de luta e de atuação muito dele. Nenhum dos outros astros de filmes de luta chegava nem perto de ter o brilho que ele tinha.

Por isso, por outras coisas e também porque tem tudo a ver com A Arte da Guerra, foi que resolvi escrever um post específico sobre o maior astro de artes marciais de todos os tempos – e não tô nem aí se isso contraria o que escrevi no post sobre 17 dos grandes artistas marciais da história da China.

Vem comigo e depois escreve lá nos comentários sua opinião. Combinado?

Bruce Lee: nasce uma lenda


Action figure de Brue Lee no filme Operação Dragão, com cara de desconfiado

27 de novembro de 1940. Nesta data Lee Jun Fan veio à luz para se tornar o homem que hoje todos conhecemos como Bruce Lee.

De acordo com o horóscopo chinês, não apenas o ano, mas também a hora de seu nascimento era do signo do dragão – um presságio forte e fortuito, segundo a tradição.

Ao contrário do que muita gente pode imaginar, no entanto, ele não nasceu em Hong Kong nem em nenhum outro lugar da China. Coube à Chinatown de São Francisco, Califórnia (EUA), ouvir seu primeiro choro.

Mesmo assim, foi criado em um local de Hong Kong chamado Kowloon, desde os três meses de idade até o final da adolescência.

Os muitos nomes de Bruce Lee

Além da tradição do signo, outra rondou a vida de Bruce Lee em seus primórdios – ou seria maldição?

Acontece que o primeiro nome que sua mãe quis lhe dar foi Sai Fon – que é mais usado para meninas e significa algo como “pequena fênix”.

Jun Fan, o nome oficial, também foi ideia de sua mãe e significa “retornar uma vez mais” - o que é mais ou menos a mesma ideia da fênix.

Dizem as más línguas que ela sentia que ele retornaria aos Estados Unidos quando ficasse mais velho.

O cara teve também outros três nomes chineses:

  • Li Yuanxin – um nome ligado à família dele (ou clã);
  • Li Yuanjian – que ele usou como estudante quando frequentava o colégio; e
  • Li Xiaolong – nome artístico que usou em filmes chineses e significa... “pequeno dragão”.

Quanto ao bom, velho e famoso Bruce, acredita-se que tenha sido ideia da dra. Mary Glover – pelo que entendi, a médica de plantão na maternidade em que ele nasceu.

Os pais e irmãos de Bruce Lee

O pai de Bruce Lee, chamado Lee Hoi-Chuen, era um dos principais atores de filmes de Hong Kong e também da ópera de Cantão.

Antes do nascimento do pequeno dragão, embarcou em uma tour de um ano com a ópera e levou sua família junto. Ele já vinha excursionando aos Estados Unidos por muitos anos, tendo se apresentado em diversas comunidades chinesas de lá.

Apesar de muitos de seus colegas terem decidido viver nos EUA, ele retornou a Hong Kong pouco depois do nascimento de Bruce. Alguns meses depois, Hong Kong foi invadida pelo Japão e a família Lee viveu por três anos e oito meses sob a ocupação japonesa.

Após o fim da guerra Lee Hoi-chuen retomou sua carreira e tornou-se ainda mais popular durante os anos de reconstrução.

Sua mãe, Grace Ho, era uma católica meio chinesa e meio caucasiana (de ascendência alemã), filha e sobrinha de ilustres empreendedores e filantropos de Hong Kong.

Na verdade, ela pertencia a um dos clãs mais ricos e poderosos de Hong Kong, os Ho-tung. Era inclusive sobrinha de Sir Robert Ho Tung, o patriarca eurasiático do clã.

Como tal, o jovem Bruce Lee, quarto filho do casal, cresceu em um ambiente de ricos e privilegiados e teve como irmãos: Phoebe, Agnes, Peter e Robert.

O início nas artes marciais


Não parece, mas até poderia ser uma estátua de Bruce Lee no museu de cera de Londres

Apesar da vantagem do status de sua família, o bairro em que Bruce Lee cresceu tornou-se superlotado, perigoso e cheio de rivalidades de gangues devido a um afluxo de refugiados da China comunista para Hong Kong - na época uma colônia da coroa britânica.

Depois de frequentar a Tak Sun School, Lee ingressou aos doze anos na divisão de escola primária do La Salle.

Por volta de 1956, devido ao baixo rendimento escolar (e possivelmente a "má" conduta também), ele foi transferido para o Colégio de S. Francisco Xavier (ensino médio), onde iria ser orientado pelo Irmão Edward, um professor e treinador da equipe de boxe da escola.

Mas parece que a mudança não resolveu muita coisa, pois ele acabou se envolvendo em várias lutas de rua - motivo pelo qual seus pais decidiram que ele precisava ser treinado nas artes marciais.

E aposto que você já viu essa história em algum lugar, Daniel San.

Mas não foi no estilo mais agitado ou aguerrido de kung fu que ele foi iniciado. Seu começo com as artes marciais chinesas deu-se por intermédio de seu próprio pai, que o apresentou aos fundamentos do plácido estilo wu de Tai Chi Chuan.

Apesar disso, a maior influência no desenvolvimento de artes marciais de Lee foi seu estudo de Wing Chun. Aos 16 anos, em 1957, Bruce Lee começou a treinar esse estilo com o já conhecido por nós Yip Man.

Depois de um ano de treinamento, a maioria dos outros alunos de Yip Man recusava-se a treinar com Lee, mas não porque ele já era o maioral. O problema era sua ascendência mista, já que os chineses em geral eram contra ensinar suas técnicas de artes marciais para não-asiáticos.

Ponto para Yip Man, que não se importou com isso e - incentivando-os a lutar em competições organizadas - ainda tentava manter seus alunos longe das lutas nas gangues de rua de Hong Kong.

Bruce, por sua vez, mostrou grande interesse no Wing Chun e continuou a treinar em particular com Yip Man e Wong Shun Leung em 1955.

Going to California


Estátua de Brue Lee em Hong Kong

Na primavera de 1959, Bruce Lee voltou a ter problemas com briga de rua e os policiais foram chamados. Até o fim da adolescência, essas brigas tornaram-se mais frequentes, e incluíram dar uma sova no filho de uma família da temida tríade.

Parece que o moleque era a personificação da encrenca e a própria polícia já estava de saco cheio do jovem futuro astro, o que resultou em um ultimato a seu pai - bem ao estilo

ou ele se aquieta ou o xadrez aquieta ele.

Deve ter sido a gota d'água para o velho Lee Hoi-Chuen, que, em abril de 1959, decidiu que o filho deveria deixar Hong Kong para buscar uma vida mais segura e mais saudável nos Estados Unidos.

Chegando lá, com 100 doletas no bolso e 18 anos nas costas, foi morar inicialmente com sua irmã mais velha, Agnes, que já vivia com amigos da família em San Francisco.

Também foi trabalhar como garçom no restaurante de uma senhora chamada Ruby Chow, cujo marido era amigo do velho pai de Bruce Lee.

Não muito tempo depois, em dezembro de 1960, ele completou o ensino médio, recebendo seu diploma da Edison Technical School (agora Seattle Central Community College).

Em março de 1961, Lee se matriculou na Universidade de Washington - tendo estudado teatro, filosofia e psicologia, entre vários outros assuntos.

Foi na Universidade de Washington que ele conheceu sua futura esposa, Linda Emery, uma colega que estudava para se tornar professora.

Ambos casaram-se em agosto de 1964 e tiveram dois filhos: Brandon Lee (1965-1993) e Shannon Lee (nascida em 1969).

Bruce Lee e sua carreira nas artes marciais


Cartaz com desenho de Bruce Lee fazendo uma de suas caretas

Além de trabalhar como garçom, pouco depois de mudar-se para os Estados Unidos (ainda em 1959), Bruce Lee passou de aluno a mestre, ou seja, começou a lecionar artes marciais.

Ele chamou o que ensinava de Jun Fan Gung Fu - literalmente, Kung Fu de Jun Fan, que era seu nome de verdade, lembra?

Apesar da propensão à autopromoção, o Jun Fan Gung Fu nada mais era que sua abordagem para o Wing Chun.

Ele ensinou amigos que conheceu em Seattle, começando com o praticante de judô Jesse Glover, que continuou a ensinar algumas das técnicas iniciais de Lee. Outro aluno, Taky Kimura, tornou-se o primeiro instrutor assistente de Lee e continuou a ensinar a sua arte e filosofia depois de sua morte.

Foi em Seattle que Lee abriu sua primeira escola de artes marciais, chamada Instituto Xavier para Garotos Superdotados de Kung Fu Lee Jun Fan.

Na primavera de 1964, Lee abandonou a faculdade. Mudou-se com a esposa para Oakland a fim de morar com James Yimm Lee - um conhecido artista marcial chinês, vinte anos mais velho e que veio a tornar-se amigo e mentor de Bruce.

Juntos, eles fundaram a segunda academia de kung fu do futuro astro.

James também foi responsável por apresentar Bruce a Ed Parker, artista marcial americano e organizador do famoso Campeonato Internacional de Caratê de Long Beach.

A convite de Ed, Lee apareceu no Campeonato de 1964, no qual realizou as incríveis demonstrações de flexões apoiadas em dois dedos:

Flexão com apenas dois dedos: isso é que é maromba, hein!

No mesmo evento, ele também apresentou um de seus "truques" mais famosos: o "soco de uma polegada":

Bruce Lee demonstra seu famoso soco de uma polegada.

O coitado que serviu de sparring para a demonstração foi Bob Baker, de Stockton, Califórnia. Não tenho certeza se é o do vídeo acima, mas o cara depois fez o seguinte comentário sobre o soco:

Eu disse a Bruce para não fazer esse tipo de demonstração novamente. Quando ele me deu o soco da última vez, eu tive que ficar em casa, sem trabalhar, porque a dor no meu peito era insuportável.

Nesse mesmo evento Lee teve o primeiro contato com o mestre de taekwondo Jhoon Goo Rhee.

Os dois cultivaram uma amizade da qual se beneficiaram como artistas marciais.

Nesse sentido, Lee aprendeu sobre o chute lateral com Rhee, que por sua vez aprendeu com nosso amigo um negócio chamado soco "não-telegráfico".

Bruce Lee, Wong Jack Man e Vic Moore

Mas o ano de 1964 não foi só de apresentações espetaculares e amizades perpétuas para o jovem artista marcial. De acordo com declarações do próprio Bruce Lee, a comunidade chinesa teria lhe dado um ultimato para parar de ensinar os não chineses.

Quando ele se recusou a capitular à demanda, foi desafiado a um julgamento por combate com Wong Jack Man - um estudante direto do mestre Ma Kin Fung, conhecido por sua maestria no Xingyiquan, Shaolin do Norte e Tai Chi Chuan.

O acordo seria: se Lee perdesse, teria que fechar sua escola; se ganhasse, estaria livre para ensinar a quem bem entendesse.

Claro que essa é uma versão da história, que Wong negou, afirmando que ele desafiou Lee porque ele se gabou, durante uma de suas apresentações em um teatro de Chinatown, de que poderia vencer qualquer um em São Francisco.

A luta aconteceu na Chinatown de Oakland, Califórnia, teve algumas testemunhas, mas a controvérsia continuou, com ambos os lados clamando vitória. Inclusive, Wong sugeriu em um jornal a realização de uma nova luta (e pública) para resolver a polêmica, mas o negócio ficou por isso mesmo.

E no final das contas, o que é certo nessa história toda é que Lee continuou a ensinar os famigerados caucasianos.

Se você quiser saber mais sobre essa querela, tem um livro a respeito, escrito por Rick Wing: Showdown in Oakland: The Story Behind the Wong Jack Man - Bruce Lee Fight.Também estão lançando um filme inspirado nessa história (eu vi o trailer e gostei do que vi).

Três anos depois, em 1967, Bruce Lee apareceu novamente no Campeonato de Long Beach para demonstrar, entre outras coisitas o "soco indefensável" - e contra o campeão mundial da United States Karate Alliance (USKA), Vic Moore.

Bruce Lee demonstra seu "soco indefensável" contra Vic Moore, em 1967

Aqui tem mais controvérsia e há todo um séquito de fãs de Moore que concorda com suas alegações de que o "desafio de reflexos" foi vencido pelo carateca. Ou melhor, que ele defendeu o soco indefensável.

Mas deixemos isso pra outro momento - quem sabe no futuro não faço um post apenas sobre os "adversários" de Bruce Lee?

Por enquanto, continuemos.

Bruce Lee e Jeet Kune Do (JKD) - o estilo sem estilo (ou o não-estilo com estilo)


Action figure de Brue Lee no filme Operação Dragão

Com o passar do tempo, Lee aprendeu algumas lições valiosas de todos esses episódios - especialmente da luta contra Wong.

As principais: as técnicas do Wing Chun tinham limitações e as artes marciais tradicionais eram muito rígidas e formais para serem praticadas em cenários caóticos de lutas de rua.

O cara decidiu então aperfeiçoar ainda mais sua técnica e desenvolver um sistema com ênfase em:

  • Praticidade;
  • Flexibilidade
  • Velocidade; e
  • Eficiência.

Começou a usar métodos diferenciados de treinamento, como:

  • Peso, para força;
  • Corrida, para resistência;
  • Alongamento, para flexibilidade.

Isso sem contar outros que ele adaptava constantemente, incluindo esgrima e técnicas básicas de boxe.

Assim, em 1967:

  • o pau já estava quebrando no Vietnã;
  • Lee havia filmado uma temporada do Besouro Verde; e
  • nascia, a partir do Instituto de Kung Fu Jun Fan, o Jeet Kune Do - no qual ele enfatizava o que chamou de estilo do não estilo.

E o que exatamente seria isso?

A proposta tem uma pegada meio Taoísta e trata de se livrar da abordagem formal, inclusive de seu próprio sistema Kung Fu Jun Fan, evoluindo para uma filosofia e arte marcial traduzida (temerariamente por mim) como:

Caminho do Punho Interceptador 

Mas vamos ficar mesmo com Jeet Kune Do, ou JKD, ok?

Aliás, vale a pena aqui anotar que o próprio criador arrependeu-se do nome que deu à criatura.

É que o tal nome implicava parâmetros específicos conotados pelo estilo, mas a ideia de sua arte marcial era existir fora de parâmetros e limitações.

Ou seja, ela poderia ir para onde eu praticante desejasse - pelo menos é o que depreendi da coisa toda.

Bruce Lee na TV


Bruce Lee como Kato, à esquerda, em uma participação especial na série do Batman

Então, como já sabemos, o pai de Bruce Lee era um famoso astro da ópera cantonesa. Por conta disso, ele foi apresentado aos filmes muito cedo e apareceu em várias películas como ator mirim.

Seu primeiro papel foi ainda bebê, em um filme chamado Golden Gate Girl, e aos 18 anos ele já havia aparecido em vinte filmes.

Nos Estados Unidos, de 1959 a 1964, ele deixou de lado os filmes, em prol de sua carreira nas artes marciais. Mas em se tratando de quem era e de onde estava, seria só uma questão de tempo, não é mesmo?

E lembra daquelas exibições no Campeonato Internacional de Caratê de Long Beach?

Pois é, por conta delas ninguém menos que William Dozier o convidou para a audição do piloto de uma série chamada Number One Son.

Ela nunca foi ao ar, mas Lee acabou sendo convidado para o papel que o catapultou no ocidente: o famigerado Kato, de Besouro Verde. E o curioso é que a série durou apenas uma temporada, entre 1966 e 1967.

Outra curiosidade é que ele também interpretou Kato em três episódios da (também) famigerada série de TV do Batman na qual Adam West e Burt Ward interpretavam, respectivamente, o Homem-Morcego e o Menino Prodígio.

Santa onomatopeia! Pow! Kiai! Crash!

Essas incursões foram seguidas por participações convidadas em três outras séries:


Em 1969, Lee fez uma breve aparição no filme Marlowe (escrito por Stirling Silliphant), no qual ele interpretava um cabra contratado para intimidar o detetive Philip Marlowe (interpretado por James Garner).

Silliphant era um de seus alunos de artes marciais e, não por acaso, Bruce Lee participou de outros filmes escritos por ele.

Mas antes, ainda em 1969, ele também coreografou cenas de luta para o filme Arma Secreta contra Matt Helm (The Wrecking Crew) -  que não apenas era estrelado por Dean Martin e Sharon Tate, mas também apresentava Chuck Norris em seu primeiro papel no cinema.

Em 1970, Lee foi responsável por coreografar Caminhando sob a Chuva da Primavera, com Ingrid Bergman e Anthony Quinn - e escrito por seu aluno Silliphant.

No ano seguinte, Lee apareceu em quatro episódios da série Longstreet, também escrita por Silliphant, na qual representava Li Tsung, o instrutor de artes marciais da personagem que dava título à série, Mike Longstreet.

No roteiro foram inseridos aspectos importantes de sua filosofia de artes marciais.

Sequência de abertura da série de TV Kung Fu

Não entanto, uma pessoa com o tipo de personalidade de Bruce Lee dificilmente se contentaria apenas com esses papéis secundários. Obviamente ele queria ser o astro principal das séries e dos filmes em que viesse a atuar.

Após tentar emplacar uma série de kung fu que se passaria no velho oeste - ideia que de fato virou realidade com David Carradine no papel principal, e sem Bruce Lee - ele decidiu seguir o conselho do produtor Fred Weintraub.

Voltou para Hong Kong para fazer um longa-metragem que pudesse mostrar aos executivos de Hollywood.

Bruce Lee no cinema


Bruce Lee em uma cena de seu primeiro filme, O Dragão Chinês

Sem saber que "O Besouro Verde" havia alcançado algum sucesso em Hong Kong – sendo oficialmente intitulado "O Show de Kato" –, ele ficou surpreso ao ser reconhecido na rua como a estrela da série.

Depois de negociar com o Shaw Brothers Studio e com o Golden Harvest, Lee assinou um contrato para estrelar dois filmes produzidos por essa última companhia.

Seu primeiro papel principal veio então com O Dragão Chinês (The Big Boss) em 1971, que tornou-se um grande sucesso de bilheteria em toda a Ásia e o catapultou ao estrelato.

Logo depois, em 1972, foi lançado A Fúria do Dragão (Fist of Fury) – que quebrou os recordes de bilheteria fixados previamente pelo Big Boss.

Para seu terceiro filme, O Voo do Dragão (Way of the Dragon, também de 1972) foi-lhe dado o controle completo da produção – como escritor, diretor, estrela e coreógrafo das cenas de luta.

É o filme com a cena de luta final no Coliseu, em Roma, entre ele e ninguém menos que Chuck Norris – considerada hoje uma das cenas de luta:

  • mais lendárias de Lee; e 
  • mais memoráveis da história dos filmes de artes marciais.

No final de 1972, Lee começou a trabalhar em seu quarto filme com a Golden Harvest, Jogo da Morte (Game of Death). Ele havia iniciado a filmagem de algumas cenas, incluindo a sequência de luta com Kareem Abdul-Jabbar – que havia sido seu aluno.
A produção foi interrompida quando a Warner Brothers ofereceu-lhe a oportunidade de estrelar Operação Dragão (Enter the Dragon) - que viria a se tornar um dos filmes de maior bilheteria de 1973 e consolidava seu astro como um dos grandes mestres das artes marciais chinesas.

O filme rodado em Hong Kong provocou uma breve moda em artes marciais, condensada em canções como "Kung Fu Fighting".

Apenas alguns meses após a conclusão do filme, e seis dias antes de seu lançamento – marcado para 26 de julho de 1973 – aconteceu o que ninguém esperava. O mundo perdeu o principal garoto-propaganda do kung fu.

Robert Clouse, o diretor de Operação Dragão, e a Golden Harvest reviveram o filme inacabado, mas o negócio não prosperou direito, considerando que, entre outros problemas:

  • só havia uns 15 minutos aproveitáveis de Bruce Lee (apesar de ele ter filmado mais de 100 minutos de ação antes de suspender as filmagens);
  • a história original foi totalmente reformulada; e
  • foram usados sósias que nem de longe conseguiam captar a personalidade de Lee.

Isso sem contar que fizeram o que fizeram sem o mínimo respeito pelo falecido e por seus fãs (e #ficaadica para que alguém refaça o filme direito utilizando os recurso tecnológicos à disposição do século XXI).

Alguém? Tarantino? Jackie Chan?

De qualquer maneira, 40 minutos de filmagem não utilizada foram recuperados 22 anos depois e incluídos no documentário Bruce Lee: A Jornada de um Guerreiro (2000).

O que não deixa de ser um alento.

A morte de Bruce Lee: tristeza e controvérsia


A lápide de Bruce Lee, em Seattle

Em 10 de maio de 1973, em Hong Kong, Lee apresentou um quadro de edema cerebral enquanto trabalhava na pós-produção do filme Operação Dragão.

Sofrendo de convulsões e dores de cabeça, ele foi imediatamente levado para o Hong Kong Baptist Hospital, onde foi diagnosticado e medicado.

Em 20 de julho de 1973, Lee estava em Hong Kong para jantar com George Lazenby, o astro do filme de James Bond, com quem pretendia fazer um filme. Antes, porém, Bruce encontrou-se com o produtor Raymond Chow em casa, às 14h, para discutir a realização do filme Jogo da Morte.

Eles trabalharam até as 16h e depois foram juntos para a casa de Betty Ting Pei  - uma atriz taiwanesa que trabalhava com Lee. Os três passaram o roteiro na casa da atriz e depois Chow saiu.

Mais tarde, Lee queixou-se de uma dor de cabeça, e sua amiga deu-lhe um analgésico. Por volta de 19h30, ele foi se deitar para um cochilo.

Quando Lee não apareceu para um encontro marcado, o produtor Raymond Chow foi ao apartamento de Betty, mas não conseguiu acordar o pequeno dragão.

O médico que foi chamado passou dez minutos tentando reanimá-lo antes de o enviar de ambulância para o Hospital Queen Elizabeth.

No momento em que a ambulância chegou ao hospital, Bruce Lee já estava morto.

Ele tinha 32 anos.

Linda Lee, sua viúva, voltou para sua cidade natal, Seattle, e o enterrou no lote 276 do Cemitério Lakeview.

Carregaram seu caixão no funeral, em 31 de julho de 1973:

  • Taky Kimura;
  • Steve McQueen;
  • James Coburn;
  • Chuck Norris;
  • George Lazenby;
  • Dan Inosanto;
  • Peter Chin; e
  • o irmão de Lee, Robert.

Polêmica e teorias da conspiração

Oficialmente, um edema cerebral agudo decorrente de uma reação alérgica a compostos presentes no analgésico que Bruce Lee havia tomado foi a causa de sua "morte desafortunada" - expressão utilizada pelos médicos então.

Não houve lesão externa visível. No entanto, de acordo com os relatórios de autópsia, seu cérebro tinha inchado consideravelmente, de 1.400 a 1.575 gramas (um aumento de 13%).

Nada disso evitou que numerosos rumores e teorias da conspiração aparecessem na mídia - inclusive o de assassinato envolvendo (de novo) as tríades e a de uma suposta maldição que pairava sobre ele e sua família.

Também se especulou que a canabis encontrada no estômago de Lee pudesse ter contribuído para sua morte, mas isso também foi refutado pelos médicos.

O livro The Death of Bruce Lee: A Clinical Investigation (A Morte de Bruce Lee: Uma Investigação Clínica) apresenta a crença de que Bruce Lee já estava "sensibilizado" para o uso de Equagesic - um dos componentes do analgésico - por ocasião da sua primeira "reação de hipersensibilidade aguda", em maio de 1973.

Lee teria se deixado de usar o medicamento novamente até aquela noite fatídica.

Palavras finais e a "entrevista perdida" de Bruce Lee


Bruce e sua eterna esposa, Linda Emery

O que mais há pra escrever a respeito de uma pessoa como Bruce Lee? Muito.

Certamente ele não era perfeito, ninguém é.

Talvez não fosse o melhor lutador de kung fu de seu tempo, talvez fosse.

Naturalmente, seus feitos são sobrevalorizados por seus fãs e pelos que tem interesse em perpetuar o mito para, de alguma forma, continuar ganhando dinheiro com isso.

E, como vimos, é impossível chegar até onde ele chegou sem deixar alguns desafetos pelo caminho. Incrivelmente, parece ter deixado também muitos amigos e admiradores.

Além disso, é inegável que ele mudou o mundo e contribuiu mais que a maioria dos políticos, como costuma acontecer com frequência, para a aproximação do Oriente e do Ocidente.

Mesmo que isso tenha se dado por meio da glamorização da violência.

Também é inegável que sua influência ultrapassou a barreira do tempo e permanece até os dias atuais, com inúmeras homenagens e obras a seu respeito ainda sendo lançadas.

Mas nada do que se escreva pode substituir as palavras do próprio mestre. Por isso deixo você com essa chamada "Entrevista Perdida", que ele deu a Pierre Berton em 1971:


Por fim, não se esqueça:

Seja como a água, meu amigo.

Zài Jiàn!


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Créditos e referências

Ilustrações e fotos creditadas na ordem em que aparecem no post.

2 comentários:

  1. Bela análise meu caro. É pra sentir saudades da infância e porque não reviver personagens como o Bruce Lee?

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    1. Obrigado, Diego. Engraçado como algumas coisas nos fazem viajar para o passado, não é mesmo?

      Abraço!

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