Ads Top

Clássico da Poesia - Parte I - Livro III - Odes 26 a 29

Pintura representando barcos de madeira da China antiga

Este é o oitavo post de uma série com a tradução dos 305 poemas do Clássico da Poesia (ou Livro das Odes/Canções), a mais antiga coleção de poemas da China.

Como não entendo quase nada de mandarim, as traduções serão feitas a partir da clássica versão em inglês com a qual nos brindou James Legge.

Os 4 poemas a seguir são os primeiros do Livro III, da primeira parte da obra.

Parte I

Lições dos Estados


Livro III

Odes de Bei



26. Bo Zhou


Um oficial valoroso lamenta o descaso e desprezo com que ele foi tratado


Flutua a esmo aquele barco de madeira de cipreste;
Sim, ele flutua ao sabor da correnteza.
Perturbado e insone eu estou,
Como se sofresse de uma ferida dolorosa.
Não é porque eu não tenho vinho
Nem porque não posso vaguear e perambular por aí.

Minha mente não é um espelho;
Ela não pode [igualmente] receber [todas as impressões].
Eu, na verdade, tenho irmãos,
Mas não posso depender deles;
Eu me encontro com sua raiva.

Minha mente não é uma pedra;
Ela não pode ser rolada.
Minha mente não é um tapete;
Ela não pode ser enrolada.
Minha conduta foi digna e boa,
Com nada de errado que possa ser apontado.

Meu coração ansioso é cheio de problemas;
Eu sou odiado pela multidão de criaturas más;
Eu encontro muitas angústias;
Recebo não poucos insultos.
Silenciosamente penso em meu caso,
E, começando a despertar, desfaço-me em mágoas.

Há o sol e a lua,
Como tornou-se pequeno aquele e não essa?
Apega-se a tristeza ao meu coração,
Como um vestido sujo.
Silenciosamente penso no meu caso,
Mas eu posso abrir minhas asas e voar para longe.


27. Lu Yi


A queixa, triste mas resignada, de uma esposa negligenciada


Verde é o roupão superior.
Verde com um forro amarelo!
A tristeza do meu coração...
Como é que pode cessar?

Verde é o roupão superior.
Verde, o superior e amarelo a peça de baixo!
A tristeza do meu coração...
Como ela pode ser esquecida?

[Tingida de] verde foi a seda;
Foi você quem fez isso.
[Mas] eu penso sobre os antepassados...
Que eu possa ser impedida de cometer erros.

Linho, fino ou grosseiro,
É frio quando usado ao vento.
Eu penso sobre os antepassados
E encontro o que está no meu coração.


28. Yan Yan


Chuang Chiang relata sua tristeza pela partida de Tai Kuei e celebra a virtude dessa senhora


As andorinhas voam erráticas,
Com suas asas desigualmente exibidas.
A senhora estava voltando [ao seu estado natal],
E eu a escoltei longe no país.
Olhei até não poder mais vê-la
E minhas lágrimas caíram como chuva.

As andorinhas voam erráticas,
Ora para cima, ora para baixo.
A senhora estava voltando [ao seu estado natal],
E longe eu a acompanhei.
Olhei até não poder mais vê-la
E longamente permaneci em pé e chorei.

As andorinhas voam erráticas,
De baixo, de cima vem seu gorjeio.
A senhora estava voltando [ao seu estado natal],
E longe eu a escoltei para o sul.
Olhei até não poder mais vê-la
E grande foi o pesar do meu coração.


29. Ri Yue


Chuang Chiang denuncia, e apela contra, o mau tratamento que recebeu do marido


Ó sol, ó lua,
Que iluminam esta terra de baixo!
Eis o homem
Que me trata em desacordo com a regra antiga.
Como ele pode ter sua mente acalmada?
Será que ele então não me respeitaria?

Ó sol, ó lua,
Que eclipsam esta terra de baixo!
Aqui está esse homem
Que não será amigável comigo.
Como ele pode ter sua mente acalmada?
Será que ele então não responderia a mim?

Ó sol, ó lua,
Que avançam a partir do oriente!
Eis o homem
Com palavras virtuosas, mas de fato ruim.
Como ele pode ter sua mente acalmada?
Será que ele então me permitiria ser esquecida?

Ó sol, ó lua,
Que a partir do oriente avançam!
Ó pai, ó mãe,
Não há nenhuma sequela para o seu cuidar de mim.
Como ele pode ter sua mente acalmada?
Será que ele então responderia a mim, contrariamente a toda razão?


Índice e últimos poemas já publicados



É isso aí. Zái Jiàn!



Créditos

2 comentários:

Tecnologia do Blogger.