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Sun Tzu, a história de Qi e o homem superior

Uma das inúmeras imagens representando o grande sábio da China, Confúcio

Eis que estamos para alcançar o momento crucial da vida de Sun Tzu em Qi. É em torno desse momento (a conferir na última parte  desse post) que a minha narrativa está sendo escrita.

E do último texto para cá acho que encontrei o fio da meada!

Mas vamos que vamos para o distante ano do galo de madeira, 516 AEC, no qual todos os episódios registrados nos Anais da Primavera e Outono possuem correlação com a fuga de Duque Zhao (de Lu) para Qi.

No futuro, se for necessário, conto essa história (se bem que estou certo de que, ainda que indiretamente, ela fará parte do livro). No momento, basta sabermos que:

  • no meio da história que resultou em sua fuga, encontramos a filha de Bao Wenzi, um dos figurões de Qi, casada com um figurão de Lu
  • ele foi parar em Yangzhou, que originalmente pertencia a Lu, mas em um passado não muito distante foi tomada por Qi.

Yangzhou era um tipo de cidade de fronteira, onde o fugitivo permaneceria por um tempo, até saber ao certo o que Jing, o marquês de Qi, pretendia fazer em relação ao seu caso.

Pouco depois, ambos combinaram um encontro em Pingyin, mas o hóspede resolveu ser gentil e, a fim de reduzir a jornada de seu anfitrião, viajou um pouco mais até Yejing.

No encontro, o marquês falou para o exilado:

Desde as fronteiras de Ju até o oeste, entregarei a você o território de 25 mil famílias e aguardarei comandos adicionais de sua senhoria. Liderarei então meus pobres soldados e seguirei seus oficiais, obediente a quaisquer comandos seus. Seu pesar é meu pesar.
Aparece, no entanto, um sujeito chamado Zijiazi para se posicionar contra essa proposta:

As recompensas dos Céus não se repetem. O presente dos Céus para sua senhoria não deve ser maior que o destinado ao duque de Zhou. Lu é suficiente. Se você perder Lu e com esse território tornar-se um súdito de Qi, quem será contigo? Além disso, o regente de Qi está destituído de boa fé; você deve ir o quanto antes para Jin.

Os Anais não deixam claro, mas, pelo teor da conversa, dá pra perceber que Zijiazi faz parte do séquito de seguidores de Zhao.

Provavelmente era um conselheiro ou ministro do naipe do Yanzi de Qi. Sagaz, percebeu segundas intenções na proposta de Jing e tentou advertir seu líder.

Bons e maus conselhos

Já falamos aqui no blog sobre esse negócio de bons/maus conselhos/conselheiros. Parece que nosso amigo Zhao não leu ou não está muito ligado no que Sun Tzu disse, né?

O cara não apenas fez ouvidos de mercador, como também foi prestar atenção ao que outro seguidor seu argumentava. São mais ou menos essas as palavras de Zang Zhaobo:

Com nossa força máxima e um único coração nós iremos acalentar os mesmos gostos e desgostos, deixando claro quais são e quais não são os criminosos. Nós seguiremos o duque e não nos separaremos dele, nem permitiremos qualquer comunicação entre os que estamos aqui no exílio e aqueles que permanecem em Lu.

Zijiazi ainda tentou contra argumentar:
Nesses termos, não posso participar disso. Em minha falta de capacidade, não posso integrar a mesma mente que todos vocês e devo pensar que todos são criminosos. Talvez eu deseje me comunicar com os que estão em Lu e deixar nosso soberano. Vocês todos amam seu exílio e não gostam de assentar-se... como podemos ser uma só mente? Qual crime seria maior do que ter permitido que nosso soberano sofresse tais dificuldades? Se abrirmos um canal de comunicação com Lu e deixarmos nosso soberano, logo será possível seu retorno. Se não estabelecermos essa comunicação, o que faremos? E a quem protegeremos?

Apesar de sua eloquência, foram vãs as palavras. Zhao fechou acordo com Jing e ambos viveram felizes para sempre a vida de Qi e Lu seguiu seu novo rumo.

Não sem antes, já no 12° mês do ano, Qi iniciar uma campanha para tomar Yun em favor a seu novo hóspede.

Chegando aos finalmentes

Ali pelo terceiro mês do ano seguinte, o 515 do cachorro de fogo, Zhao finalmente fixou residência em Yun.

O verão já dobrava a esquina e o marquês de Qi tinha a intenção de fazer com que o duque de Lu retornasse à terra natal.

Parte desse plano passava por tomar a cidade de Cheng, pertencente ao clã Mengsun.

As tropas de Qi, então, marcharam para o local, lado a lado com os poucos homens do duque exilado.
Jing ordenou que seus oficiais não recebessem nenhum tipo de presente de Lu.

Obviamente, ele não combinou com os russos, que não se fizeram de rogados e enviaram um sujeito chamado Shen Feng com duas peças de seda florida em seu cabedal.

Ele seguiu um outro cabra, chamado Ru Jia, até onde estava o exército de Qi. Lá chegando, encontrou-se com Gao Yi, um oficial ligado a Ziyou (ou Ju de Liangqiu) - alto oficial de Qi.

A idea era subornar Gao para que este, por sua vez, subornasse Ziyou. O negócio deu certo e Ziyou mandou uma conversa fiada mais ou menos assim para cima do marquês:

Seus oficiais não se esforçam ao máximo pelo soberano de Lu por conta de coisas estranhas que aconteceram, e não porque eles sejam incapazes de lhe servir. Duque Yuan de Song estava a caminho de Jin por conta própria e morreu em Quji. Shusun Zhaozi procurava restabelecer seu regente quando morreu sem ter qualquer doença. Não sei se os Céus abandonaram Lu ou se o soberano de lá de alguma forma ofendeu os espíritos e consequentemente essas coisas aconteceram. Se sua senhoria aguardar em Quji, pode nos mandar para seguir o soberano de Lu e formar uma opinião sobre o assunto. Se a vitória for possível, aumente a força e você pode então seguir; não haverá oposição. Se houver chance de fracasso, sua senhoria não precisa dar-se o trabalho de seguir.

O marquês caiu no papo furado e mandou Gongzi Chu liderar uma força para apoiar o duque Zhao (e obviamente fazer a avaliação que Ziyou sugeriu).

Cheng conseguiu, com o suborno e outros artifícios articulados pelo comandante Gongsun Zhao, ganhar tempo para que o auxílio de Lu chegasse.

O homem superior

Quando seus exércitos chegaram, lutaram contra os de Qi em um lugar chamado Chuibi.

Sun Tzu (Chen Wuzi) deve ter acompanhado Gongzi Chu, pois aqui aparece um relato de sua atuação no campo de batalha (e nem dá para dizer que foi das mais gloriosas).

No meio da bagunça, o autor d'A Arte da Guerra é ferido na mão por uma flecha atirada por um sujeito chamado Ran Shu.

Após a batalha, Ran tem um diálogo a respeito de Sun com Pingzi, o cara que estava a cargo de Lu. Ele fala mais ou menos isso:

Há um homem superior com uma face branca, barba e sobrancelhas espessas e uma boca terrível.

A "boca terrível" é por conta dos impropérios lançados por Sun Tzu ao ser atingido. O comentário de Pingzi foi algo desse naipe:

Deve ser Ziqiang. Você não lutou com ele?

Respondeu Ran:

Eu disse que ele é um homem superior; como ousaria eu lutar contra ele?

E na verdade essa é a primeira e única vez que esta pessoa de nome Chen Wuzi aparece nos Anais da Primavera e Outono - pelo menos no período que nos interessa.

Sun Tzu estava prestes a completar 30 anos e nós já estamos com os principais elementos necessários para dar continuidade ao trabalho de escrever um livro sobre ele.

Fecho aqui esta série sobre a história de Qi, muito embora possa voltar com um texto ou outro que nos ajude a entender melhor isso tudo.

Espero que tenha gostado e continue acompanhando nosso blog, pois ainda teremos muita coisa boa vindo por aí.

Zài Jiàn!

Créditos e referências

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