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A história de Qi e da provável família de Sun Tzu, os Campos


Então, você que já conhece o mínimo da história conhecida de Sun Tzu, autor do livro A Arte da Guerra, vai se lembrar que há uma indefinição a respeito do local onde ele teria nascido.

Um texto histórico fala da provínciade Qi, outro, da própria Wu, que lhe deu a fama e a fortuna.

Eu pessoalmente havia decidido que seria mais legal para a história que escrevo botar ele para nascer em Qi, pois oferece mais opções de enredo.

No entanto, não tinha a intenção de me aprofundar muito na história desse lugar. Pretendia tão somente fazer referências pontuais ao local, à medida que a narrativa se desenvolvesse.

Ocorre que escrever um livro está se mostrando uma tarefa longe de ser tão cartesiana.

Descobri na internet informações que ligam Sun Tzu a uma família influente de Qi (em inglês) e resolvi puxar o fio dessa meada para dar o background de vida de que nosso herói (???) precisa.

É muito provável que essas informações sejam uma forçação de barra, mas como pretendo escrever uma história de ficção, em que pese todo meu esforço para apresentar um bom pano de fundo histórico, vou dar um voto de credibilidade a elas e aumentar a relevância de Qi em minha trama - possível até que eu aumente exponencialmente...

Dito isso, vamos conhecer um pouco da história dessa província, especialmente a partir de 598 AEC - ano do porco de água no calendário chinês -, quando a suposta família de Sun Tzu (os Tian,ou Chen) tornam-se mais influentes.
Naquela época havia dois tipos de “reinos” (que eu tenho chamado de províncias):

  1. os que eram reconhecidamente integrados ao Reino do Meio (a própria China sob a autoridade do imperador) e 
  2. os periféricos, bárbaros ou semi bárbaros (pelo menos na visão dos “chineses”)

Wu era um dos periféricos. Qi era um dos integrados.

A terra do ancião de Lü

De fato, Qi tinha grande importância, apesar de pequena, pois a dinastia que ali reinava havia sido fundada por Lü Shang (ou o “Ancião de Lü”, também conhecido como Tai Kung, o Grande Duque).

Ele tinha sido fundamental na vitória dos Zhou sobre os Shang, ali por volta de 1050 AEC.

A ele inclusive é atribuída a autoria de um dos clássicos militares da China antiga, o Liu-t’ao (Six Secret Teachings, Seis Ensinamentos Secretos).

Note que, se essa atribuição de autoria tiver um pé firme na realidade, então esse livro é ainda mais antigo que A Arte da Guerra, mas isso é outra história.

Desde a morte de Lü Shang até o século VI AEC a história de Qi é repleta de sucessões anabolizadas por traições familiares que envolviam todo tipo de sacanagem.

Nada muito diferente do que ocorre em qualquer lugar e a qualquer tempo em que o componente “poder” tenha alguma relevância.

Nesse interregno, um dos fatos significativos em relação à política externa foi a anexação de Ji (689 AEC), um pequeno reino vassalo do reino de , futuro lar de Confúcio.

Cerca de quatro anos depois, em 685/6 AEC, assumiu o comando o duque Huan, que elevou a influência de Qi a um novo patamar.

Foi ele quem despachou um exército para atacar , conseguiu a vitória e, após uma série de ações militares bem sucedidas, tornou-se hegemônico em 680 AEC.

Campos Tzu

Em seu governo, no ano de 672 AEC, teve início a história da família de Sun Tzu (pelo menos para meu funesto objetivo).

Ocorre que o príncipe Wan, de Chen, pediu refúgio em Qi e, olha só, foi feito Ministro dos Trabalhos (gongzheng, e não me pergunte, pois ainda não descobri exatamente quais seriam as atribuições do titular de tal cargo).

Como refugiado que era, passou a ser tratado por um sobrenome diferente, Tian (campo/plantação em chinês, provavelmente em alusão a ter sobrevivido das plantações, ou campos, por onde passou em sua fuga).

E não é que esse Ministro Tian Jingzhong era um ancestral de Tian Wuzi, que todos conhecem hoje como Sun Tzu?

Quer dizer, seguindo essa linha de raciocínio, se realmente esse rapaz era o autor d'A Arte da Guerra, o Tzu era Campos antes de ser Sun.

Digressões a parte, até a morte de Huan (643 AEC) e de Guan Zhong, seu principal conselheiro, Qi continuou firme como uma das mais poderosas províncias de então.

Inclusive, chegou a atacar também a poderosa Chu, em nome da dinastia Zhou, por conta de uma tentativa de calote dos tributos a serem pagos.

Outro episódio que também demonstra a força de Qi e Huan foi o fato de ele ter conseguido fazer com que um aliado seu assumisse o comando em Jin, outra das poderosas províncias da época.

A partir de 642 AEC houve uma sucessão de governos relativamente curtos até a ascensão do duque Ling, em 581 AEC.

Durante seu governo, Qi e Jin continuaram sua relação de amor e ódio, tanto que em determinado momento Ling enviou seu filho Guang como refém para Jin até as coisas acalmarem.

Ao retornar foi nomeado o herdeiro oficial e, de fato, assumiu o governo em 553 AEC, após tirar um concorrente de seu caminho. Tornou-se, deste modo, o segundo duque Zhuang da história de Qi.

A ascensão de Feng e dos Campos

E é aqui que a família Tian começa a aparecer mais, e eventualmente incomodar outros poderosos.

Tian Wenzi, que pelas minhas contas viria a ser o avô de Sun Tzu (Tian Wuzi), aparece pela primeira vez e já botando banca.

Wenzi aconselha o duque não apenas a não oferecer abrigo a um nobre fugitivo de Jin, mas também não ajudá-lo em um ataque a sua terra natal. 

Esse conselho ignorado demonstrou-se correto, já que no ataque acabou sendo realizado sem sucesso.

Tian Huanzi (ou Wuyu) , filho de Wenzi, também serviu ao duque Zhuang, embora não por muito tempo, já que este acabou sendo morto ao tentar escapar da residência de um de seus ministros.

O motivo da prisão e do assassínio não poderia ser mais banal: Cui Zhu desejava vingança pelo affair entre Zhuang e sua esposa.

Aliado a Qing Feng, Cui Zhu fez soberano Chujiu, um irmão mais novo do falecido Zhuang, que tornou-se o duque Jing em 547 AEC.

Acontece que esse Zhu não era tão esperto quanto pensava e se deixou enredar na trama armada por Qing Feng, que matou seus filhos e o fez cometer suicídio.

Naturalmente, seu corpo foi desmembrado e exibido nas ruas como assassino do duque Zhuang. De 546 AEC em diante Qing Feng veio a ser o todo-poderoso conselheiro da província.

Esse poder exagerado, no entanto, não agradou outras famílias poderosas de Qi, entre elas (adivinha, vai...) os Tian.

Junto com os Bao, Gao e Luan, eles conspiraram com o filho de Feng, Qiang She, para ocupar sua residência oficial.

Feng conseguiu escapar e foi parar, olha só, em Wu. Coincidência, não?

Parêntese

Faço aqui um parêntesis para lembrar a todos que a data de nascimento “oficial” de Sun Tzu é 544 AEC, ou seja, mais ou menos quando essas tretas estavam rolando em Qi, nascia o rei da estratégia.

Nos anos seguintes à fuga de Feng, os ânimos entre Qi e Jin finalmente se acalmaram, ao mesmo tempo em que crescia o poder da família Tian.

Por conta disso, Jiang despachou um conselheiro das antigas, Yan Ying, para Jin com o objetivo de discutir o crescente poder dessa família. Parte desse poder se devia à sua relação com a população.

Tian Qi (ou Xizi), filho de Tian Huanzi e, presumo eu, irmão mais velho de Tian Wuzi (ou Kai/Sun Tzu) era generoso com a população ao distribuir os grãos e também ao coletá-los na forma de impostos.

E já que é época de eleição, vale a comparação: ele meio que misturava as ideias do PT com as do PSDB, cobrava menos impostos e ao mesmo tempo distribuía um bolsa-família generoso.

Os outros partidos clãs, claro, reclamavam que eles tentavam comprar o coração do povo (olha que bonitinho...rsrs).

E aqui o site China Knowledge, minha fonte primária para essa históriade Qi, dá um salto no tempo no que diz respeito aos Tian e vai direto para o ano de 493 AEC, quando o governo do duque Jing estava quase no final e, muito provavelmente, Sun Tzu morto e enterrado.

Por conta disso, pelo menos por enquanto, não vou detalhar esse pedaço da história.

No entanto, a versão comentada dos Anais da Primavera e Outono ainda nos fornece informações sobre os Tian até o ano 509 AEC, alguns verões depois que nosso herói parte de lá rumo a seu destino (pelo menos na minha história, até agora).

Mas por hoje acho que já escrevi demais...

Nas próximas semanas vamos acompanhar esse período em detalhes.

Te aguardo.

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Foto de camponês de Java (Indonésia) publicada no UOL de autoria de Beawiharta.

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