Da Arte de Vencer Sem Desembainhar a Espada -- Capítulo III do livro A Arte da Guerra de Sun Tzu
A melhor política guerreira é tomar um Estado intato; uma política inferior consiste em arruiná-lo.
![]() |
<< Sun Tzu diz: imita a vigilância, a diligência, o entusiasmo e a tenacidade das formigas. Foto: Valdir Dala Marta, via timblindim >> |
Esse título, pelo menos na versão d'A Arte da Guerra do Padre Amiot/Sueli Cassal, quase chega a ser poético. E o conceito por trás dele, e também do desenvolvimento do terceiro capítulo do livro, é um dos que eu considero mais interessantes.
Sim, tem a ver com evitar o confronto, mas também diz respeito a vencer antes mesmo de lutar.
Melhor dizendo, ter certeza -- por meio do uso e aplicação dos outros conceitos -- de que, quando se partirem para as vias de fato, quando estiver na hora do pau, o inimigo é quem vai sair derrotado.
Assim,
Já no segundo parágrafo, atira:
Conservar os domínios e todos os direitos do príncipe que serves deve ser o primeiro de teus cuidados. Só deves ampliá-los, usurpando o território inimigo, quando for imprescindível.
E continua, mais adiante, afirmando que "é preferível subjugar o inimigo sem travar combate". Acrescenta:
Os grandes generais vencem descobrindo todos os artifícios do inimigo, sabotando-lhes os projetos, semeando a discórdia entre seus partidários, mantendo-o sempre acossado, interceptando reforços estrangeiros, e impedindo-o de tomar qualquer decisão mais vantajosa para ele.
As idas e vindas do amor de Sun Tzu
Ao longo do capítulo ele vai e volta de e para uma ideia e outra sem pestanejar.Digo, ele discorre sobre evitar o confronto, logo depois fala em um confronto sem lutas -- utilizando-se da inteligência e destacando a importância de atacar a estratégia do inimigo.
Também fala de como proceder ao vencer -- basicamente, fazer o possível para que o vencido integre-se às hostes do vencedor. Mas logo depois volta às ideias anteriores, e vai continuando assim.
Também oferece conselhos práticos para a hora do vamos ver, a exemplo de como agir com relação à diferença numérica entre os soldados -- tanto para mais quanto para menos:
Se fores inferior, fica alerta. O menor erro pode ser fatal. Tenta colocar-te a salvo, e evita, se possível, entrar em choque com o adversário. A prudência e a firmeza de um punhado de pessoas pode conseguir extenuar e dominar mesmo um exército numeroso. Assim, és ao mesmo tempo capaz de te proteger e de obter uma vitória completa.
Ok, segundo Frank Miller, não foi o que aconteceu com Leônidas e os 300, mas parece que Alexandre e Gengis Khan eram meio que especialistas nisso (a conferir).
O jogo dos 7 erros (e das 5 circunstâncias)
Na verdade ele fala em uma patacada de erros e em 7 males cruciais no comando dos exércitos:- executar cegamente ordens tomadas na Corte
- tornar os oficiais confusos
- misturar regras civis e militares
- confundir o rigor necessário a governar o Estado com a flexibilidade requerida pelo comando das tropas
- dividir a responsabilidade
- disseminar a suspeita/desordem
- aguardar ordens em todas as circunstâncias
Sun Tzu deve ter sido, inclusive, um precursor do empowerment, pois aqui e ali ele toca no assunto, dizendo coisas como o item 7 acima e como:
Nomear um general é da alçada do soberano; decidir uma batalha cabe ao general. Um príncipe esclarecido deve escolher o homem que convém, revesti-lo de responsabilidades e aguardar o resultados.
O chinês termina o capítulo com uma referência a Mênsio, com uma de suas mais famosas frases -- se conhece o inimigo e a si mesmo não precisa temer o resultado de cem batalhas -- e com uma lista de 5 circunstâncias necessárias para vencer o inimigo:
- saber quando combater e quando dar o fora
- saber lidar com o pouco e o muito
- compor habilmente as fileiras
- preparar-se com prudência para afrontar o inimigo
- evitar ingerências do soberano
Não por acaso ele chama essa lista de "os 5 caminhos da vitória".
E, parafraseando um dos personagens mais chatos da famigerada Escolinha do Professor Raimundo, vitória é o que interessa, o resto... ah, o resto é resto.
Ou não?
Nenhum comentário: